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Eles fazem a engrenagem funcionar em hospitais de Bauru

especial Famesp, Elaine de Sousa | ACI Famesp


Em tempos de guerra, um médico com poucos recursos salva vidas tanto quanto possível. Mas a assistência à saúde ofertada em ambientes hospitalares depende de uma estrutura complexa para que a engrenagem toda funcione como uma orquestra. Da portaria às salas de especialistas, a sinfonia desafina se faltar alguém.

Desde o final dos anos 80, por exemplo, tornou-se impossível pensar em gestão de saúde sem o protagonismo das equipes de Tecnologia da Informação. Tanto que há um movimento que discute, hoje, o conceito de e-Saúde, enquanto mudança nos processos de trabalho em saúde que favoreça o uso mais intenso da TI, a fim de melhorar a assistência, atenção, promoção, monitoramento e vigilância em saúde. Em tempos de crise esse trabalho é ainda mais evidente. De acordo com o DataSUS, o Brasil conta com expressivo acervo de dados, disponibilizados pelos diversos sistemas de informação de saúde, construídos ao longo dos últimos 40 anos. Com o necessário isolamento social, essa área, que já é importante na estrutura, tem sido exaustivamente acionada por serviços como Hospital de Base, Hospital Estadual de Bauru e Maternidade Santa Isabel – todos sob gestão da Famesp. A atuação vai desde a ampliação da quantidade de equipamento até o desenvolvimento de sistemas que agilizam o trabalho da assistência.

O gerente de TI da Famesp em Bauru, Alexandre Bazan, é um dos profissionais da linha de frente desse trabalho. Diuturnamente, ele está alerta às demandas, liderando as equipes que transformam os pedidos da área em realidade. E ele não faz isso remotamente. Apesar da formação em TI, está entre os trabalhadores da saúde que entram diariamente nos prédios dos hospitais para salvar vidas. Sim, essa é a missão de todos que trabalham na área da saúde, independentemente de atuarem na administração ou na assistência. “Eu entendo que esse é o nosso papel e estamos todos empenhados em atender as necessidades do momento da melhor maneira possível”, relata Bazan.

É o que faz também o encanador Antonio Luiz Dias, que trabalha na Manutenção do Hospital Estadual de Bauru. Considerado grupo de risco, por ter mais de 60 anos, ele tem clareza de seu papel como trabalhador da saúde e sente orgulho de cumprir sua jornada nessa fase de crise.

“Eu procuro dar uma ajuda para a equipe. Nessa hora precisamos estar unidos porque o lema do hospital sempre foi cuidar. E nós precisamos cuidar para que as pessoas que estão em casa saibam que seu ente querido está sendo bem tratado em todos os aspectos”, diz.

Antonio garante o funcionamento adequado de banheiros e quartos no que se refere à parte hidráulica. Mas entende que sua função específica é “trazer um pouco de tranquilidade para o paciente”.  “Para manter uma estrutura dessa funcionando você depende de uma equipe muito grande, com médicos, enfermeiros, técnicos, funcionários de manutenção, como pedreiros, pintores, encanadores, eletricistas... E a função de todos nós é cuidar”, destaca.  “Quando saio de casa, eu costumo dizer para minha família que eu não vou trabalhar. Eu vou é doar um pouco de mim em prol da comunidade”, finaliza.

O mesmo pensamento é compartilhado por Antônia Afonso, funcionária da área de Limpeza no Hospital de Base de Bauru. Ela limpa corredores, portas e superfícies de um andar inteiro do Hospital, mas entende que sua função vai muito além da limpeza: “os pacientes precisam de amor. Então, com meus materiais, meu rodinho, estou sempre dando o meu melhor e oferecendo um sorriso e, de alguma forma, transmitindo amor”, relata.

Dias de guerra
A área de Recursos Humanos é outra que ultrapassa em muito o conceito meramente administrativo e tem atuado, de fato, como gestora de pessoas e de suas emoções. Gerenciar inseguranças, dúvidas, medos e até mesmo o quebra-cabeças de escalas afetadas por atestados de última hora tem feito parte do dia a dia da gerente de RH do Hospital Estadual de Bauru, Rozeli Tamelini.

“Nesse momento, focamos nossos esforços para garantir a assistência adequada e a segurança de todos os envolvidos: trabalhadores, pacientes e comunidade”.

Rozeli conta que nas últimas semanas chega cedo no Hospital e não tem hora para ir embora. Muitas vezes ela só percebe que o dia está terminando no finalzinho da tarde, quando se lembra de que nem almoçou. “A família ressente, pede atenção. Mas, como profissionais da saúde, temos uma missão maior agora”, relata. “Mesmo em casa, eu repasso meu dia mentalmente pensando o que poderia ter sido diferente, que decisão poderia ter sido melhor. Vou dormir exausta, mas no dia seguinte, renovada, volto para o front. É como se fosse uma guerra mesmo. E meu objetivo nessa guerra é dar todo apoio aos funcionários para que eles consigam dar uma assistência de qualidade e segura, segura para ambos – funcionário e paciente”, conclui. 

Fora da caixa
Nesse momento, em que hospitais como o Estadual, que é referência regional para o tratamento de casos suspeitos de Covid-19, trabalham com planos de contingência e fluxos alterados, sempre pensando na segurança de pacientes, trabalhadores e sociedade em geral, há profissionais que saíram de suas funções originais para ajudar em áreas mais urgentes. É o caso da enfermeira Ana Cristina Martins, com mais de 20 anos na área da assistência. Na rotina do HEB, ela atua na área de Educação Permanente, ligada ao Recursos Humanos, desenvolvendo treinamentos para as equipes.

“Hoje, devido à pandemia, estou ajudando a equipe de Saúde do Trabalhador, com foco na saúde dos funcionários, com suporte e apoio a eles nessa fase sensível”, conta. Ana, portanto, saiu de sua “caixa” de atuação para contribuir com a rotina hospitalar.

Assim tem feito muitos outros profissionais nesse momento. O poder de adaptação, a resiliência e a solidariedade são características que fazem toda a diferença nos momentos de crise.  Por isso, todos os aplausos que tem chegado a eles, por meio de campanhas nas redes sociais, são mais que bem-vindos. (E.S.) #FiquemEmCasa